terça-feira, 1 de junho de 2010

Foucaultiano (criatividade, esperança e amor)

Há pouco conversei com meu irmão pelo MSN. Ele se queixava que numa cidade média “parece que ela te coloca em uma engrenagem, já pronta, sem que te dês conta...”. Respondi que isso é assim mesmo e até ajuda, já que não precisamos ficar reinventando a roda a todo momento. As instituições facilitam a vida em sociedade. São fruto de um consenso, têm suas regras próprias e oferecem oportunidade de atuação profissional. As instituições também têm sua dinâmica própria e vão mudando com o tempo, se bem que lentamente.

A queixa do meu irmão se referia à institucionalização da vida pessoal. Essa sim é indesejável. A vida pessoal ocorre justamente nas brechas deixadas pelas instituições, não é consensual e tem uma dinâmica mais ágil. É nesse campo que ocorrem as tendências comportamentais que exigem mudanças nas instituições. Se houver um engessamento da vida pessoal, a sociedade tende à estagnação. E veja que não estou falando em vida pessoal individual. É possível e até desejável compartilhar a vida pessoal até o limite da institucionalização. Depois disso, ela tende a desacelerar sua dinâmica criativa.

Outro dia, assisti a uma palestra sobre a reforma anti-manicomial. O palestrante falava que estava ocorrendo uma nova institucionalização no tratamento da doença mental nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps). Nova porque substituía a dos manicômios. E isso não era bom. Era preciso desinstitucionalizar os Caps. Concordei no diagnóstico, mas não na terapêutica. É muito mais fácil criar novas alternativas do que desinstitucionalizar uma instituição. Além disso, é mais desafiador, mais vivo, mais alegre.

Já há toda uma tradição do pensamento sociológico a respeito desse tema, do mundo da vida de Habermas ao cuidado de si de Foucault, só para citar dois pensadores que conheço. O anarquismo, aquela maneira de viver totalmente contrária à institucionalização (pelo menos até onde foi vivido na prática) também é uma corrente de pensamento centrada na vida pessoal. Mas já não temos aquela pretensão revolucionária, solução radical contra as instituições, que visava destruí-las e construir novas.

Isso porque na nossa realidade social atual tendemos a uma certo cinismo diante das instituições. Aceitamo-las como mais uma invenção a favor do nosso conforto. E agimos pessoalmente independente delas. A instituição é como o controle remoto e a vida pessoal é o nosso zapping. Depois de um longo período, aprendemos a usar a tecnologia em favor da vida pessoal e não tanto da institucionalização do comportamento. Daí, ser uma bobagem afirmar que twitter não é MSN. O twitter é o que queremos que seja e a maneira como o usamos. O resto é institucionalização.

Então, calma irmão. Aja nas instituições como um profissional e ganhe seus recursos desse trabalho. Com eles, viva a sua vida pessoal com criatividade, esperança e amor.