Depois de dizer que a minha coluna vertebral estava " judiada", o médico me fez enfrentar outra contrariedade: fazer uma ressonância magnética. Na entrevista antes de entrar pelo tubo confessei que não me sentia bem em locais apertados. Na verdade, não suporto a idéia de ter os movimentos limitados. Enquanto aguardava com aquela roupa branca de médium pensava como enfrentaria a sensação de estar preso num caixão; iluminado, mas caixão. Pensei em meus tempos de iogue. Bastaria fechar os olhos e me concentrar em algo bom, que envolvesse sensações diversas capazes de distrair a maioria dos sentidos. "O exame dura 20 minutos", avisou a moça. "O aparelho vai fazer ruídos fortes. Aqui na sua mão há uma campainha para o caso de você precisar sair".
Fechei os olhos assim que comecei a entrar no tubo. Quando a maca parou, abri e me senti mal. A parede do tubo estava muito perto do meu rosto. Olhei para baixo e para cima até onde a vista alcançava e fiquei imaginando se daria para espichar os braços para o alto da cabeça, agarrar a borda do tubo e puxar, tirando a cabeça para fora. Fechei os olhos e o ruído me distraiu um pouco. Tentei compor uma música eletrônica com aqueles zumbidos sequenciados (adeus trema).
O que me salvou foi o passeio de barco que tinha feito no domingo de carnaval, até a ilha de Anhatomirim. Teve um momento nele em que fechei os olhos (acho que devo consultar um oculista) e fiquei sentindo o vento, o sol, o ruído da água e do motor no balanço do barco. Busquei essas sensações e as trouxe para dentro do tubo, para a pele, p'ra dentro da cabeça (reagge, u-hu).
Fiquei nessa não sei quanto tempo. De vez em quando olhava para ver se a parede estava na mesma distância do meu nariz. Apenas em um momento meu pensamento viajou para aquele pesadelo de ser enterrado vivo... Mas cpnsegui voltar para a viagem de barco, sem usar a campainha.
