A figura é aquela mesmo: uma forma humana vestida com uma túnica preta, que paira, rodopia no ar em torno de cada um de nós. Acompanha-nos sempre. O que muda é a distância entre nós e ela num determinado momento. Há vezes que está longe e nem faz parte de nossas preocupações cotidianas. Em outras, chega muito próximo, numa velocidade espantosa. Há ainda situações em que passa a conviver (a morte é irônica!) mais próxima de nós, tornando-se mais real e aparente à nossa percepção do mundo.- Por que estás tão próxima de mim? – perguntamos, sem receber resposta. A morte não tem nada a nos dizer. Ela simplesmente ceifa a vida num instante qualquer. A morte se alimenta da vida como nos alimentamos de bois.
Antiga, deve ficar curiosa com os esforços do homem contra ela.
- Por que tentar evitar o inevitável?, perguntaria caso filosofasse. Mas, não; fica ali rondando pacientemente até o momento mais apropriado para o golpe de foice.
A única maneira de combater a morte é tirar seu alimento, que, aliás, já vem perdendo qualidade há algum tempo. A morte não é boa nem má. Indesejada, mas astuta, tempera a vida antes de comê-la.


