- Então, como está o teu caso?
- Olha, doutor, de novidade, uma dor aqui do lado e, às vezes, nas costas. Continuo com o tratamento de quimioterapia. Tenho aqui alguns exames que comprovam tudo o que ocorreu até agora.
- Deixe-me vê-los.
- Está faltando um testado da médica que minha mulher vai trazer daqui a pouco. É preciso, né?
- Depende. Pode ser que eu chegue às minhas conclusões apenas com os exames. Deixe-me examiná-lo.
(Seguem exames de apalpação. Chega minha mulher com o atestado, depois de ter ligado no celular em plena consulta.)
- Aqui está o atestado, doutor.
- Deixe-me ver. Bem, você deve saber que uma perícia não é um exame. Somos médicos que temos que entender muito sobre legislação também.
(Ele começa a teclar no computador. Não resisto a uma pergunta.)
- Doutor, qual a possibilidade de uma aposentadoria no meu caso?
- Bem, veja, vou lhe dar mais dois anos de licença. Acho que ainda há chances de melhora. Apesar de concordar com o que diz a médica no atestado.
- (Melhora para uma doença incurável e fatal? O senhor também é padre? Ou espera que eu morra sem onerar a Previdência? E a segurança financeira da minha família? E a minha aposentadoria complementar?)
- No papel que vais receber não está o tempo da licença. É necessária a assinatura de outro médico perito para confirmar. Vais receber esse aviso pelo correio.
- Obrigado, doutor.
(Os peritos estavam em greve e foram obrigados a voltar aos atendimentos pela justiça. O perito que me atendeu é ex-pediatra e se tornou uma pessoa amarga, segundo outro médico amigo meu. O atestado da médica dizia que eu estava definitivamente impossibilitado para o trabalho.)
2 comentários:
Tu és o maior guerreiro que eu já conheci...
perito este, ex pediatra, tbm me atendeu na perícia... dr. Rids da Silva!
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