segunda-feira, 5 de abril de 2010

As cores da sedução

As tais pulseirinhas coloridas de silicone que indicam a disposição sensual de adolescentes viraram polêmica depois que uma jovem foi estuprada por três homens, em Londrina. Antes já vinham desafiando moralistas de plantão, mas com o estupro, virou tema da esfera do poder público. Em Navegantes (SC), as “pulseiras do sexo” foram proibidas por lei em escolas da rede municipal de ensino. E aí vem a polêmica, que, aliás, foi parar no Fantástico: quem deve proibir o uso das pulseiras, o Estado ou a família? Antes de responder essa pergunta, seguem algumas considerações sobre essa delicada questão.

Apesar de parecer avançado, o método de sedução das pulseirinhas é conservador e machista. Não vi em nenhuma matéria um menino usando as tais pulseiras, só meninas. Isso indica que, nesse jogo, as mulheres é que tem que estar à disposição para que os meninos rebentem as pulseiras e ganhem seu prêmio. Por outro lado, isso pode ser considerado um avanço na liberação sexual das mulheres que agora podem usar outros indicativos de sua disposição para a sedução além das roupas sensuais. Aí já teríamos um comportamento avançado e feminista.

Mas as pulseiras coloridas são apenas mais um jogo que os jovens inventaram para se divertir. É sintomática a declaração de uma adolescente em reportagem do Fantástico. Ela disse que o fato de usar as tais pulseiras não significa que esteja disposta a fazer sexo com alguém. Pode parecer contraditório, mas é como os adolescentes entendem essa brincadeira. Quem interpretou literalmente as pulseiras como uma sinalização para o sexo foram os adultos assustados com o comportamento dos filhos e os estupradores da jovem londrinense – estes últimos criminosos a espera de uma ocasião para exercer suas taras.

As pulseiras servem como uma forma de expressão de jovens que começam a descobrir a sexualidade e o poder da sedução. E como tal, não devem ser interpretadas como disposição imediata para o sexo por uma sociedade adulta ainda fortemente conservadora e preconceituosa. São só um indicativo dessa disposição, que deve ser considerada para todos os adolescentes, independente de gênero.

Assim, apesar de combalida, é a família que deve administrar o comportamento dos jovens. Mas só se for capaz de entender as motivações da gurizada e, a partir daí, trocar uma idéia, indicando os perigos de determinados comportamentos na realidade violenta e desumana em que vivemos em grande parte das cidades. Deixar para o Estado essa orientação é fugir da responsabilidade de pais e alimentar uma estrutura viva que pode se transformar em um monstro quando define como e quando as pessoas podem ou não agir e pensar de determinada maneira.

Um comentário:

Cícero Nogueira disse...

Acabava de comentar sobre isso com uma colega do trabalho, antes de acessar sua página.
Sem dúvida o estardalhaço todo foi feito pelos adultos que vêem maldade em tudo. Os pais não controlam o comportamento dos filhos e acham que o estado tem que intervir, como você disse.
O papel da escola é orientar e dos pais é executar a educação, impor limites, mostrar o certo e não ocultar o errado,incentivar os bons exemplos e DIALOGAR.
Tem pai que nem é amigo de seus filhos...