A viagem de Blumenau para São Paulo foi como era de esperar: cansativa, com um engarrafamento lá pelas duas da manhã e pouco confortável. A grande expectativa era andar novamente de trólebus, de São Paulo a Santo André, onde fica o hotel.
Lembro de ter andado de trólebus em Porto Alegre, quando tinha uns quatro ou cinco anos, no início da década de 70. Eram como ônibus, mas mais silenciosos e diferentes, com as antenas que os conectavam aos cabos de energia elétrica, seu combustível. Ruído mesmo, só uns estalos na hora de pôr o veículo para andar, um barulho de choque forte, era a minha impressão - ou é hoje -, e lá ia deslizando o trólebus suavemente.
Bem diferente dos bondes, que circulavam na mesma época em Porto Alegre. Também elétricos, andavam em trilhos que sulcavam as ruas da cidade, eram mais rústicos, com muito mais ferro em sua composição. Ferro sobre ferro, desajeitados e barulhentos, circulavam nas ruas do Centro da cidade, amarelos, com um farol no meio apenas, se não me falha a memória. A frente e a ré se alternavam de acordo com o sentido da viagem; os encostos dos bancos mudavam de posição também. Há alguns anos ainda eram visíveis pedaços de trilhos teimosos surgindo do meio das camadas de asfalto das ruas.
Daí parte da minha expectativa de reencontrar um trólebus. Mas expectativa demais atrapalha.
Do terminal rodoviário do Tietê, passa-se direto à linha azul do metrô. Até o ponto final são umas 20 estações. Entre 6h30min e 7 horas, o movimento foi calmo, até chegar na estação da Sé e nas que fazem a conexão com as linhas verdes do metrô. até a estação final da linha, Jabaquara, dá tempo de observar algumas pessoas, um pouco por curiosidade, outro tanto buscando identificar riscos à minha segurança e à da minha mala. Não encontro: vejo só trabalhadores meio entediados indo - quem sabe vindo de - para mais um dia de trabalho.
Um jovem de cabelo espetado escuta música alta nos fones, no banco em frente. Uma mulher lê um livro mexendo os lábios - vi outra na mesma situação num ônibus depois. Uma mulata jovem senta ao meu lado e finaliza a maquiagem - levanta e pinta os cílior e passa rouge nas bochechas. Já tem o cabelo alisado e curto. Se não fosse eu, contido e discreto, diria a ela que exagerou no rouge. Cabelos lisos, vá lá, mas faces muito avermelhadas não combinam muito com mulatas.
Fim da linha. Do metrô para o terminal metropolitano. Preciso perguntar duas vezes antes de acertar o corredor. Um guarda indica o ônibus que está parado. Não é trólebus e não vai para Santo André. É preciso fazer baldeação em Diadema. Isso sim é periferia explícita e escancarada! Praticamente todas as casas estão pichadas e vários muros têm "grafites". Os moletons de malha com capuz são vestidos por meninos e meninas - eu inclusive usava um nesse momento. "Estar de boa" é uma expressão usada várias vezes por dois jovens que comentam as vidas de conhecidos em comum, que se equilibram entre o prazer e o drama no uso de drogas.
Na baldeação foi que perdi o trólebus. Um rapaz gentilmente me indicou o caminho para chegar ao outro lado da plataforma. Há um ônibus parado - na hora não percebi que veículo era - e uma fila de espera.
- Este vai para Santo André?, perguntei para a primeira da fila.
- Vai.
- E paga onde? Lá dentro?
- Já está pago, respondeu ela.
Entro e esqueço de perguntar por que todas aquelas pessoas estão na fila. Estariam esperando o trólebus? Vai saber.
No caminho vou cuidando das placas do comércio das cidades. Sei que são quatro terminais, mas só reconheço dois. Vejo os trólebus passando no outro sentido. De repente o comércio passa a preferir o nome Santo André ao de São Bernardo. Confirmo com um jovem que estamos na cidade do hotel e que vou me hospedar. Começo a procurar indicações do Ibis, placas ou letreiros. Avisto o hotel assim que o ônibus entra no terminal. Não é longe. Dá para ir a pé. Chego na recepção pouco depois das oito horas da manhã e vou direto para o café.
Lembro de ter andado de trólebus em Porto Alegre, quando tinha uns quatro ou cinco anos, no início da década de 70. Eram como ônibus, mas mais silenciosos e diferentes, com as antenas que os conectavam aos cabos de energia elétrica, seu combustível. Ruído mesmo, só uns estalos na hora de pôr o veículo para andar, um barulho de choque forte, era a minha impressão - ou é hoje -, e lá ia deslizando o trólebus suavemente.
Bem diferente dos bondes, que circulavam na mesma época em Porto Alegre. Também elétricos, andavam em trilhos que sulcavam as ruas da cidade, eram mais rústicos, com muito mais ferro em sua composição. Ferro sobre ferro, desajeitados e barulhentos, circulavam nas ruas do Centro da cidade, amarelos, com um farol no meio apenas, se não me falha a memória. A frente e a ré se alternavam de acordo com o sentido da viagem; os encostos dos bancos mudavam de posição também. Há alguns anos ainda eram visíveis pedaços de trilhos teimosos surgindo do meio das camadas de asfalto das ruas.
Daí parte da minha expectativa de reencontrar um trólebus. Mas expectativa demais atrapalha.
Do terminal rodoviário do Tietê, passa-se direto à linha azul do metrô. Até o ponto final são umas 20 estações. Entre 6h30min e 7 horas, o movimento foi calmo, até chegar na estação da Sé e nas que fazem a conexão com as linhas verdes do metrô. até a estação final da linha, Jabaquara, dá tempo de observar algumas pessoas, um pouco por curiosidade, outro tanto buscando identificar riscos à minha segurança e à da minha mala. Não encontro: vejo só trabalhadores meio entediados indo - quem sabe vindo de - para mais um dia de trabalho.
Um jovem de cabelo espetado escuta música alta nos fones, no banco em frente. Uma mulher lê um livro mexendo os lábios - vi outra na mesma situação num ônibus depois. Uma mulata jovem senta ao meu lado e finaliza a maquiagem - levanta e pinta os cílior e passa rouge nas bochechas. Já tem o cabelo alisado e curto. Se não fosse eu, contido e discreto, diria a ela que exagerou no rouge. Cabelos lisos, vá lá, mas faces muito avermelhadas não combinam muito com mulatas.
Fim da linha. Do metrô para o terminal metropolitano. Preciso perguntar duas vezes antes de acertar o corredor. Um guarda indica o ônibus que está parado. Não é trólebus e não vai para Santo André. É preciso fazer baldeação em Diadema. Isso sim é periferia explícita e escancarada! Praticamente todas as casas estão pichadas e vários muros têm "grafites". Os moletons de malha com capuz são vestidos por meninos e meninas - eu inclusive usava um nesse momento. "Estar de boa" é uma expressão usada várias vezes por dois jovens que comentam as vidas de conhecidos em comum, que se equilibram entre o prazer e o drama no uso de drogas.
Na baldeação foi que perdi o trólebus. Um rapaz gentilmente me indicou o caminho para chegar ao outro lado da plataforma. Há um ônibus parado - na hora não percebi que veículo era - e uma fila de espera.
- Este vai para Santo André?, perguntei para a primeira da fila.
- Vai.
- E paga onde? Lá dentro?
- Já está pago, respondeu ela.
Entro e esqueço de perguntar por que todas aquelas pessoas estão na fila. Estariam esperando o trólebus? Vai saber.
No caminho vou cuidando das placas do comércio das cidades. Sei que são quatro terminais, mas só reconheço dois. Vejo os trólebus passando no outro sentido. De repente o comércio passa a preferir o nome Santo André ao de São Bernardo. Confirmo com um jovem que estamos na cidade do hotel e que vou me hospedar. Começo a procurar indicações do Ibis, placas ou letreiros. Avisto o hotel assim que o ônibus entra no terminal. Não é longe. Dá para ir a pé. Chego na recepção pouco depois das oito horas da manhã e vou direto para o café.
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