sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Das praia - Delícias do verão

Camarão ao bafo, sem casca, do Cabral da Meia Praia.

Das praia – Paciência

A temporada está começando no litoral catarinense. Já se percebe mais pessoas na beira do mar em pleno dia de semana e também falhas no atendimento dos estabelecimentos comerciais. Um exemplo é o McDonald’s de Meia Praia (Itapema). Outro dia, a banca de sorvetes próxima ao shopping Russi & Russi estava sem troco e sem o sabor de chocolate. Uma mesma cliente foi “vítima” das duas falhas: teve que aceitar de uma senhora que a acompanhava dinheiro trocado e quando foi pedir o sabor chocolate soube que não tinha. Desistiu da compra e foi embora.

Aliás, o McDonald’s já deixou de ser aquela lanchonete que atendia rapidamente os pedidos dos clientes, principal estratégia de marketing da rede no início de sua implantação mundo afora. Quando não são os atendentes que demoram a fazer os lanches (Itajaí e Meia Praia são exemplos disso) são as filas que fazem perder tempo (a loja do shopping Neumarkt, em Blumenau).

Nesta última faltou queijo outro dia. E os clientes só eram avisados disso quando já estavam no caixa prestes a pagar. A demora nas filas é até compreensível para uma rede que atende 50 milhões de pessoas por dia em 30 mil lojas. Mas a falta de produtos é falha grave de gerenciamento. Se você é viciado em Big Mac, o jeito é fazer um esforço e agir como a mulher de Meia Praia, indo comprar em outro lugar. Senão, pague o mesmo preço por lanches pela metade, ajudando a diminuir a qualidade do atendimento da rede.

Voltando à temporada e às trapalhadas no atendimento, são também normais no início do verão. Mais tarde, os garçons pegam o jeito e as coisas melhoram. De qualquer forma, não se esqueça de levar uma boa dose de paciência para sua temporada de férias.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Novo tratamento

Comecei hoje o novo tratamento de quimioterapia. São três medicamentos, dois aplicados na clínica e o terceiro através de um dispositivo que tenho que carregar comigo por dois dias. Ganhei uma espécie de pochete para carregar o dispositivo que vai aos poucos introduzindo o medicamento através do catéter. Serão seis aplicações quinzenais.

Fiquei satisfeito por receber medicamento novamente. Espero que não ocorram efeitos colaterais muito significativos.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Como andam as coisas (3)

Há quase um mês não posto nada no blog. É que não há muitas novidades. Terminei o primeiro tratamento e ainda não comecei o segundo. Para não dizer que não aconteceu nada, implantei um catéter no peito por onde serão ministradas as novas doses de quimioterapia. O plano de saúde não queria liberar um dos três medicamentos do novo tratamento, mas isso já foi resolvido. Devo começar as aplicações na semana que vem.

No mais, estou me sentindo muito bem. Sem os efeitos da quimioterapia, estou mais disposto, ganhei peso e não tenho mais enjôos e fraqueza. Tomara que o próximo coquetel não seja tão forte quanto o primeiro. Quando começar o tratamento, conto para vocês como é.

Felicidades para todos!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Uma guitarra

Meu filho pediu uma guitarra no aniversário de nove anos. Acho meio cedo para um presente desses, mas pedido de filho único é quase uma ordem. Ele está estudando violão, mas quer mesmo é ser guitarrista. Vamos ver se o entusiasmo dura a ponto de fazê-lo dedicar-se ao aprendizado e aos exercícios necessários para ser um guitar player.

Em que já tive uma banda nunca tive um instrumento de verdade. O baixo que eu tocava na Curare era de um dos integrantes da banda, que me emprestava para os ensaios e apresentações. Nunca estudei música nem instrumento algum; tanto que até hoje desconheço a escala de notas e os acordes de um baixo. Espero que meu filho seja mais persistente do que eu. Como diz Caetano, é muito bom tocar um instrumento.

Como andam as coisas (2)

A sexta-feira passada foi um dia cheio de emoções. Meu filho completou nove anos de idade. A festinha foi simples, mas muito divertida. Ele ganhou a guitarra que pediu e ficou muito feliz com tudo. E não há nada mais gratificante do que a felicidade dos filhos da gente.

Na mesma sexta-feira recebi a avaliação do tratamento dos nódulos e ela não foi nada animadora. O nódulo do pâncreas diminuiu. Mas os do fígado ficaram como estavam e até aumentaram um pouco. Isso quer dizer que o medicamento não surtiu o efeito esperado. Fiquei muito triste e chorei pela segunda vez desde que soube da minha doença.

Agora partimos para outro medicamento. Vou implantar um cateter para isso. Serão mais dois meses de medicação antes da próxima avaliação. Vamos em frente, aproveitando o que cada dia tem a oferecer.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O pior exame

Achei que já tinha enfrentado os piores exames de imagem, como a tomografia com contraste e a cultura de sangue. Mas não. O pior de todos eu fiz ontem, uma ressonância com contraste. Não é nem tanto pelos efeitos do contraste, bem mais significativos na tomografia. Mas pela demora. Foi uma hora dentro daquele tubo, meio amarrado e ouvindo zumbidos de todos os tipos. Mas já passou. Registre-se e esqueça-se.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Lições de uma doença

Quatro meses depois do início do tratamento, algumas coisas começam a ficar mais claras na cabeça da gente. São coisas simples, daquelas que acabam esquecidas em meio às sofisticadas responsabilidades que arranjamos no decorrer da vida, principalmente na esfera profissional.

A primeira é a importância da alimentação. Minha dieta é balanceada e muito cheia de calorias para que eu me sustente e dê conta da anemia e da baixa imunidade trazidas pela quimioterapia. Qualquer desvio dessa dieta de iogurtes, multimistura, granola, ensure e comida saudável (legumes e frutas) acarreta uma perda de energia que se traduz por preguiça e cansaço. Assim, a alimentação é importantíssima para a saúde. Mesmo que todos saibamos disso (a tv mostra quase todo dia os poderes de um determinado alimento) acabamos almoçando lanches ou comidas engorduradas para satisfazer a fome muito mais do que as necessidades de nutrientes que realmente precisamos.

A segunda é a ingestão de água. Essa tem sido uma recomendação quase unânime entre os profissionais da saúde que consultei, da oncologista à nutricionista. Além de ajudar na eliminação de toxinas (e, no meu caso, das drogas da quimioterapia) a água auxilia o trabalho dos rins e, óbvio, hidrata o corpo – eu já fiquei desidratado e tive que tomar soro; logo, isso acontece, sim. Os profissionais recomendam a ingestão de dois litros d’água por dia. Eu não consigo tomar isso tudo, mas, enfim, é o que dizem os doutores.

A terceira é o uso do tempo. Sim, reclamamos muito da falta de tempo para fazer as coisas, tanto no trabalho quanto no lazer. As vezes estamos tão cansados do trabalho que acabamos usando o tempo livre apenas para descansar. Isso já é um bom uso, mas não se usarmos todo o tempo livre só para nos recuperarmos para mais trabalho. É pura falta de organização. Ou, então, é trabalho em excesso, além daquilo que estamos aptos a realizar. Quando o trabalho invade o âmbito da vida privada ou social é porque está em demasia. E isso fará mal à saúde, causando stresss ou coisa pior.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Frase legal

De um comercial da Epagri: “Não é porque a água cai do céu que vamos desperdiçar”.

Novidade na tela da tv?

Estréia na Globo, na quinta-feira, uma série chamada Aline, em que uma menina tem dois namorados que aceitam o triângulo amoroso numa boa. A série é baseada nos quadrinhos Aline, de Adão Iturrusgarai. Conheci Adão quando fiz meu primeiro estágio, no primeiro mandato do prefeito Olívio Dutra, em Porto Alegre. Já naquela época ele era um ativista dos quadrinhos e batalhava para formar uma cena da arte na capital gaúcha através de revistas especializadas. Quando ouvi falar dele de novo já publicava os quadrinhos Aline na Folha de São Paulo.

Mas o que chama a atenção é que a Globo tem umas idas e vindas no eixo que vai do conservadorismo moral à liberalidade de costumes. Não é a primeira vez que temos um triângulo amoroso escancarado na tela. Basta lembrar de Armação Ilimitada, em que Andréa Beltrão (a dona de salão Marilda da Grande Família de hoje) flertava com os surfistas Juba (Kadu Moliterno) e Lula (André de Biase) num relacionamento aberto e quase sem problemas. E ainda havia o Bacana (Jonas Melo) um menino que ninguém sabe de onde surgiu e também convivia com o trio (convívio sem sexo, claro).

Armação Ilimitada foi um marco na TV brasileira justamente pela maneira anárquica de abordar os costumes e de apresentá-los em linguagem televisiva de vanguarda para a época. Lembram como o chefe da Zelda (Francisco Milani) se transformava em um certo animal ou objeto dependendo do humor em que se encontrava?

Vamos ver o que dá a Aline. Se seguir metade do que é apresentado nos quadrinhos do Adão já será uma lufada de renovação no ramerrão da teledramaturgia global que ainda tem vergonha de mostrar beijo homossexual para o público. E logo depois da Grande Família!

Dica gastronômica

Fica em Rodeio o Vale das Trutas. Fomos conhecer no domingo. Escolhemos o caminho por Timbó e o interior de Rodeio, que acaba ficando mais longo. O melhor é ir pela BR-470 até o acesso principal de Rodeio e seguir as placas. Demoramos mais de uma hora para chegar. Mas valeu o passeio.

O lugar é bem simples, rústico. O restaurante é uma casa de madeira sustentada por pilares, alguns calçados com a ajuda de pedras. A decoração tem peças de cerâmica e alguns objetos antigos, como máquina de costura e ferro de passar. Fora também há mesas em áreas cobertas, uma delas ao lado de um riozinho com agradável ruído de corredeira. Há ainda tanques com trutas e a possibilidade de pescaria.

O cardápio se resume a cinco tipos de molhos que acompanham filés de truta: castanha, tomate, champignon com alcaparras , alho e óleo e alecrim. Acompanha uma verdura, cenoura ralada, peixe frito, pirão, polenta, arroz, patê de truta e molho maionese. Vinhos e suco de uva da vinícola San Michele são as sugestões de bebidas.

Os pratos podem ser repetidos a vontade. Não conseguimos provar todos os molhos – pulamos o alho e óleo. O melhor é mesmo o de castanha. O atendimento é simpático e eficiente. O preço, R$ 31,00 por pessoa. Fica a dica de passeio e boa comida.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Dia sem carro: um fracasso de evento e de mídia em Blumenau

Pouca gente levou a sério o Dia Mundial sem Carro, pelo menos pelo que se observou em Blumenau, pelos noticiários e no engarrafamento que durou quase todo o dia no Centro da cidade. A chuva e o fechamento de uma rua no centro foram decisivos para essa pouca adesão. Mas também houve descaso com o acompanhamento do dia, tanto por parte da prefeitura quanto da mídia.

A chuva foi um grande empecilho. Afinal, sabemos que em dias chuvosos o número de automóveis aumenta nas ruas da cidade. Pelo menos intuímos isso pela experiência. Se já é difícil para os carrodependentes trocar o automóvel por ônibus ou bicicleta em dias de sol, imagine em dias de chuva.

Um outro problema foi o fechamento de uma rua no Centro de Blumenau, em rente ao Barão, para atividades educativas e de lazer. Essa administração tem mania de fechar o centro da cidade para fazer eventos. O Centro já é problemático nas horas de pico, sem o acréscimo de obstáculos como o fechamento de ruas. O resultado foi um engarrafamento quase permanente nas principais ruas centrais e algumas adjacências. Por que não fazer essas atividades no parque Ramiro Ruediger, por exemplo?

Faltou um acompanhamento mais sério dos resultados do Dia sem Carro. O Seterb poderia ter feito uma média do número de carros em determinadas ruas da cidade e em determinados horários, em dias normais, e comparar esses dados com os números do Dia sem Carro. Com isso, teríamos mais precisão de dados para divulgar. Em quatro ou cinco emissoras em que assisti matérias sobre o assunto, apenas uma veio com um “chute” do Seterb de redução de 15 por cento no número de automóveis nas ruas de Blumenau.

E por falar em mídia, com a falta de dados, o destaque ficou para o deslocamento, a pé ou de bicicleta, do prefeito e de alguns vereadores. Uma emissora dedicou uma matéria completa sobre a caminhada do prefeito de casa até a prefeitura. Poucas se dignaram a entrevistar adeptos do Dia sem Carro. Outras entrevistaram motoristas. Mas a matéria não era sobre o Dia sem Carro? Outro tema presente em todas as coberturas televisivas foi o lançamento do aluguel de bicicletas em pontos da cidade, a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro.

O resultado final do Dia sem Carro em Blumenau foi um fracasso. Pouca adesão e pouca discussão de fundo sobre o tema, que envolve questões ambientais, de saúde e de estrutura urbana. Quem aproveitou mesmo foram os políticos que se reuniram na praça da Figueira e foram entrevistados por toda a mídia blumenauense.

Eu, além de criticar, aproveitei para ir a pé até a clínica para a quimioterapia. Minha mulher e meu filho usaram a bicicleta para ir ao trabalho e para a escola. Enfim, a família participou do Dia sem Carro. E mais gente aderiu. Só que quase ninguém apareceu para contar a história na televisão. Evento fraco, cobertura idem.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Os pássaros e os homens*

Minha mente voa
E os pássaros,
As vezes, se asustam
Ao vê-la passando

Meus passos no chão
Se misturam a outros
E eu me assusto,
As vezes, com as pessoas.

"Se perguntarem por mim diz que estamos todos aquém da vida e um pouco antes da morte".

* Poema escrito em 1986, resgatado por um amigo da época.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Humor

Morreu o ator e dançarino Patrick Swayze. Foi em decorrência de um câncer no pâncreas, parecido com o que tenho. O problema dele foi diagnosticado no ano passado, quando comecei a sentir meu próprio problema.

Espero que as coincidências acabem por aí. Hehehe.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Uma segunda-feira (do diário de papel)

Dormi bastante, mas acordei com preguiça. Tomei café com calma. O tempo está nublado, preguiçoso também. A cadela cobra um passeio desde cedo. Ainda tenho que arrumar as camas e, depois, preparar o almoço.

Penso nas sete semanas que restam de tratamento. Tomara que sejam tranquilas como esta última. Vou tentar retomar atividades intelectuais e físicas - já estou fazendo isso, aliás. Mas agora é essa preguiça.

Melhorei de disposição no final da manhã. Arrumei as camas, lavei a louça do café e preparei o almoço. Passeio com a cadela, só à tarde. O tempo fechou de vez e ameaça chuva. Mas minha preguiça exagerada passou. Li um pouco.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Bicicletas

Estou gostando de ver essa mobilização do poder público a favor do uso de bicicletas em Blumenau. Pode não ser a solução definitiva para o trânsito, mas é uma alternativa importante aos carros que enchem as principais ruas da cidade em horários de pico. Além disso, faz jus a uma tradição européia que a cidade quer ter, mas que se apresenta de fachada na maior parte do tempo. Com as bicicletas tendo mais espaço para circular e com o aluguel das magrelas em terminais de ônibus, os usuários começam a ter mais alternativas com soluções práticas como as que são adotadas em países da Europa.

Eu sou um adepto das bicicletas e só não uso mais em Blumenau por falta de espaço, o que provoca riscos a quem usa esse meio de transporte. E basta uma circulada pelo centro da cidade ou no parque Ramiro Ruediger para que se vejam muitas famílias pedalando cidade afora.

Seja para o lazer ou para o transporte, a bicicleta é uma alternativa saudável para o trânsito das cidades médias e grandes. Quando todo o projeto das ciclovias estiver pronto, abarcando a maior parte da cidade e o sistema de aluguel de bicicletas implantado em todos os terminais de ônibus poderemos nos sentir mais europeus na prática.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Ducha de realidade

Passei o fim de semana na praia e tive bastante tempo para pensar na vida enquanto me balançava na rede, após o almoço. Estou intrigado com minha falta de forças. Logo eu que me movimentava todos os dias, com academia, aulas, reuniões no sindicato em Floripa, coordenação de curso, doutorado...

Talvez fosse coisa demais para uma natureza mais frágil do que eu considerava que fosse a minha. De qualquer forma, é complicado perceber que, de uma hora para outra, você perdeu 80% da energia que tinha e que, hoje, passear até a esquina com a cadela é um exercício e tanto.

Paciência, fé, paz e amor. São as práticas que me sustentam hoje. Aos poucos, vou recuperando o peso. Com isso, aumento minha fé. A paz é procurada a todo o momento em que um ou outro pensamento ruim invade minha mente. O amor é da família, dos amigos, dos companheiros de jornada.

Devo acabar o tratamento no início de outubro. Até lá, já quero ter dado umas pedaladas com meu filho e minha mulher. Recomeço com as caminhadas com a cadela, com os cuidados da casa e com a cozinha. Não é pouca coisa, ainda mais se considerarmos que são atividades diárias.

Mas é isso mesmo. O pensamento não deve avançar muito no tempo nas condições atuais. O mais importante é pensar em cada dia que se vive, como venho afirmando e praticando. E aproveitar o melhor que ele tiver a oferecer.

“Vai, Laerte, e gasta como souberes os talentos que tens” (Hamlet)

Versos íntimos

Outra leitura que pode abalar uma pessoa é a do poema Versos íntimos, de Augusto dos Anjos. Aquele que começa assim:

Vês?!
Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

E daí continua para um mergulho profundo na mágoa e na impossibilidade de relacionamento entre os homens. Devia se chamar Versos terríveis. É outro texto que me dá um medinho.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

As tais leituras precoces

Costumo dizer que minha formação se deu mais pela literatura do que pela TV, se bem que não consigo avaliar direito o efeito de assistir a programas de televisão desde a infância. O fato é que na adolescência comecei a tomar gosto pela leitura e não parei mais. Algumas dessas leituras, no entanto, deveriam ter sido orientadas para a cabeça de um jovem cheio de curiosidade e sedento de experiências físicas e intelectuais. Sem querer simplificar romances e poesias, comento alguns textos desses que podem se tornar prejudiciais para a formação de um intelecto juvenil.

O primeiro que me vem à cabeça é o Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde. Um jovem bonito é pintado por um amigo e deseja que o quadro envelheça enquanto ele, o modelo, permanece jovem e bonito para toda a eternidade. É uma idéia forte e atual, já que se perde muito tempo e dinheiro tentando retardar a ação do tempo, preocupados que estamos em ter uma aparência saudável e adequada aos padrões de beleza vigentes. Mas, se mal interpretado, pode estimular essa busca desenfreada por beleza e saúde acima de quaisquer outras atividades. Quando isso vira obsessão, começa a ser prejudicial na vida de uma pessoa.

Cuidado com esse livro!

sábado, 15 de agosto de 2009

Felicidade

Recebi várias homenagens de alunos do IBES ontem, dia do meu aniversário. Fiquei muito, mas muito feliz. Foi uma verdadeira descarga de carinho e força para continuar na batalha pela recuperação da saúde. Recebi parabéns por telefone de uma turma inteira. Alguns alunos vieram até meu apartamento entregar cartões, presentes e um varal com recados.

Também fiquei feliz com as notícias de que os alunos estão ocupando os postos de trabalho em Jornalismo na cidade e na região. O curso foi reconhecido com nota 5.0 e isso me deixou bastante tranqüilo em relação ao trabalho feito para esse reconhecimento e em relação à qualidade do ensino repassado para os alunos.

Enfim, só boas notícias.

Mas a melhor de todas foi justamente o carinho dos alunos e dos colegas professores. Foi o melhor presente que recebi num aniversário.

Muito obrigado, querid@s. Amo vocês e estarei sempre na torcida pela realização de todos os seus sonhos.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Mudando valores

Desde que comecei a pensar mais seriamente sobre a vida, lá na adolescência, adotei uma maneira de ver as coisas que consistia em considerar a existência como uma série de fases boas e más intercaladas. Não sei bem porquê. Talvez por leituras precoces mal orientadas (qualquer dia falo mais disso), talvez por temperamento, sei lá. O que importa é que, mesmo nas fases boas – e elas foram maioria -, eu estava preparado para que algo não tão bom acontecesse.
Na profissão de jornalista, traduzi essa postura para uma certa desconfiança sobre as coisas e sobre as fontes. Pois bem. Escrevo para renegar essa postura sobre a vida.

O pessimismo e o ceticismo não combinam com uma vida plena de possibilidades positivas. Temos hoje tantas oportunidades de experiências, de convivências e de práticas riquíssimas em termos de relacionamento humano que não há lugar para pessimismo. Devemos aproveitar todas essas oportunidades para fazer da vida algo rico e saudável acima de tudo. A postura correta diante da vida é a do otimismo, do carinho, da amizade, do amor e da entrega ao outro – no sentido de mostrar-se plenamente. Não se deve ter receio de viver.

Como defende o Michel, da sei-cho-no-ie, a atitude positiva atrai a vida positiva, bela, feliz e descontraída. Então, é assim que deve ser.

Felicidades para todos.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Hoje

Na claridade da manhã
Em meu escritório ocioso
Contemplo o céu e as árvores
E traço planos
Para a vida de hoje

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Diário de papel

Ganhei da minha mulher um desses livros de escrever que vem com poesias e algumas sugestões de temas para textos. Gostei muito porque sou fascinado por papel e caneta. Comecei hoje mesmo a escrever o diário de papel.

Meu filho mais uma vez me surpreendeu com um texto dele, dedicatória no livro. Segue um trecho, com a gramática corrigida apenas:

"Meu pai é um amigo e tanto. A gente não conhece ninguém mais que um pai na vida, um amigo daqueles que não tem medo, só dá coragem. É o amor que entra em ação e faz o seu dever que é dar vida à pessoa e dá a certeza e nunca falha".

Minha mulher completou: "Que este livro seja construído com as alegrias e verdades que a vida, a partir de agora, vai nos mostrando".

Lindos os dois. Amo minha família.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Dando o ar da graça

Pois é, estive afstado do blog. Foi por causa do tratamento, que chegou numa fase cansativa. Perdi o apetite e mais três quilos. Mas já estou me recuperando. Esta semana, não fiz a quimioterapia, recuperei o paladar e estou me alimentando melhor. A disposição está voltando aos poucos.

Daqui a pouco tem post novo.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Lágrimas e sorrisos

Não dá para negar a realidade do que nos acontece. Tentar ignorar a parte ruim é perigoso porque podemos perder nossa noção de ser no mundo prático – uma das facetas de nossa vida. E perder a oportunidade de aprender com as dificuldades.
Os efeitos dos tratamentos simultâneos de radioterapia e quimioterapia apareceram mais nos últimos dez dias, a contar da semana passada. Tive uma forte dor de estômago acompanhada de enjôo, que me levou à emergência de um hospital para ser medicado com soro. A partir daí, perdi a dieta que seguia para manter o peso.
No fim da semana, um torcicolo e um relaxante muscular provocaram a troca do sono da noite para o dia. Passei a segunda-feira zumbiando pelo efeito da insônia.
O resultado foi a baixa de peso para menos de 60 quilos. Meu paladar está alterado e as refeições têm gosto de tratamento e pouco lembram os prazeres do gosto e do olfato tão valorizados na nossa cultura gastronômica, onde se come com o nariz, a boca e os olhos.
Mas a parte ruim é só uma faceta e tende a acabar a medida que a levamos em conta e a enfrentamos com o aprendizado que vem dela. Acabaram as sessões de radioterapia e meu estômago deve retornar aos poucos ao normal, ou quase isso. Poderei comer mais alimentos que estavam restringidos por causa do tratamento.
Há formas de combater os outros efeitos colaterais (poucos perto de todos os que podem ocorrer). Vou fazer avaliação no final do mês com exames e minha expectativa é muito otimista.
A parte boa voltará a imperar. E esta também tem sua importância, aliás, muito maior do que a outra, para que estabeleçamos os rumos de nossas vidas.
Um conselho do Caetano: respeito muito minhas lágrimas, mas muito mais os meus sorrisos.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Cena praiana

O mar estava calmo em Itapema, quase sem ondas. Apenas uma marolinha fraca se formava próximo à areia. O sol das 10 e pouco da manhã se espraiava pelo mar, formando um tapete prateado sobre a água. Na beira do mar um peixe se debatia, brilhando nos reflexos do sol, na luta contra uma gaivota e uma garça que o bicavam em busca de alimento.

Segui de bicicleta em direção ao mar. A gaivota voou logo. A garça parou por um momento seus ataques, prestando atenção na minha aproximação. Parei.
O peixe começou a saltitar em sentido contrário ao mar. Está morrendo, pensei, não sabe mais para onde vai. Mas sabia. O repuxo de um canal levou o peixe de volta ao mar rapidamente, liberando-o do ataque da garça, que perdeu de vez o petisco.

Então tudo voltou a ser como antes. O mar calmo, prateado pelo sol, e uma garça na praia. Tudo lindo na superfície, apesar da fome e da morte.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Coisas de gaúcho II – Chimarrão


Tai uma coisa difícil de ser compreendida para quem não é gaúcho, argentino ou uruguaio: o tal chimarrão. As pessoas acham difícil entender como alguém pode tomar um chá desses, com a erva do lado e água quente, com tanto gosto e ainda falar em tradição, amizade e história. Acontece que chimarrão é muito mais do que um chá da manhã ou da tarde.

Vi um filme, argentino se não me engano, em que a última cena era uma senhora, com rugas no rosto e a expressão de muita vivência, tomando chimarrão, só e calmamente. Quase fui às lágrimas com a cena – coisa que só poderia acontecer com quem traz o chimarrão como hábito desde a infância. Naquela cena estavam as lembranças da senhora sendo refletidas com a companhia do chimarrão. Imagine quantos pensamentos já não foram acompanhados por esse ritual na vida daquela senhora e de todos os que têm no chimarrão uma companhia, um chá que desperta a mente ou um pretexto para uma reunião de pessoas.

Um tio meu tem uma roda de chimarrão diária em casa, onde comparecem amigos para uma espécie de happy hour e atualização dos acontecimentos dos dias. Seja como pretexto para reunião, seja como uma prece matinal, seja como um resumo do dia ao final da tarde, o chimarrão é companhia de vida, de reflexão e de tradição.

“E dá barato, sim”, como diz Nei Lisboa. Um chimarrão pela manhã desperta a mente e ainda é um ótimo regulador intestinal. No final do dia, acompanha aquele suspiro da terra antes da entrada na noite, melhor percebido no campo aberto. Tá servido?

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Como andam as coisas...

Tenho encontrado algumas pessoas que se dizem surpresa com o que está acontecendo comigo - isso das impurezas do corpo que me fizeram priorizar o cuidado com a saúde. Podem ter certeza de que para mim também foi uma surpresa. De uma hora para outra, em poucos dias, saí do trabalho, da academia e de uma série de outras atividades intelectuais e práticas para uma condição de paciente (de câncer) - cinco quilos mais magro e com um corte no abdomem. Paciente em todos os sentidos, o de paciência e o de convalescente. Segue um apanhado geral de como me senti e me sinto para os leitores e amigos.

Quando se recebe um diagnóstico de impurezas no corpo como o meu a primeira coisa que vem à cabeça é a idéia de morte iminente. A primeira coisa que fiz foi escrever uma carta para meu filho e minha esposa. Com o início do tratamento e o apoio de muita gente, essa perspectiva foi mudando. As impurezas são tratáveis e comecei a me sentir melhor depois que os incômodos da cirurgia foram desaparecendo. Hoje, na minha cabeça, minha expectativa de vida é de muitos anos.

No mais, faço hoje a quinta de 18 aplicações de quimioterapia e a 16a de 30 de radioterapia. Os únicos efeitos colaterais são fadiga e alguma cólica. Tenho dado uma caminhada diária, de leve. Minhas resistências baixaram um pouco e estou levando uma dieta orientada para manter o corpo bem nutrido. O espírito também tem sido alvo de exercícios. Mentalizo sempre otimismo, esperança e cura. O grupo de reza ajuda muito, Já tivemos 53 encontros diários. O pessoal é incansável.

Estou lendo para o doutorado, mas ainda não iniciei a escrita de dois artigos que tenho em mente. Saio, passeio, cozinho e tento dar atenção à família sempre que possível. Penso que não sou tanto um problema, mas devo ser uma soluçào.

Estou bem e consigo falar sobre o que me ocorre sem problemas. Meus planos são voltar à academia em agosto para recuperar um pouco da musculatura. Passeios de bicicleta também estão nos planos - é só o tempo melhorar.

A vida é bela!

Coisas de gaúcho - Costela assada

Não é que o gaúcho tenha inventado o churrasco ou esse modo de preparar a costela, a carne mais saborosa para um churrasco. Antes que venham com piadinhas, é bom esclarecer que não se trata de requerer a patente ou a única forma autêntica de preparo do prato saboreado em todo o Brasil e em alguns dos principais países do mundo. Mas não dá para negar que, no RS, mormente na região da campanha, a costela assada faz parte da tradição e da vida dos gaúchos desde a mais tenra idade.

Modo de preparo (fora do Rio Grande do Sul)
Como nem todos os estados brasileiros têm uma carne macia, da qualidade da encontrada em Livramento ou em Rivera (Uruguai), do outro lado da rua, recomenda-se preparar a costela assada no forno usando um saco de assar. Isso vai garantir maciez à carne no final, já que cozinha no próprio suco antes de assar.

Pegue a costela e corte do tamanho que caiba no saco. Salgue com sal grosso, sem medo. O excesso poderá ser retirado depois com uma raspagem. Enrole no saco de assar e feche bem – alguns têm lacres de plástico para isso. Deixe um espaço vazio dentro porque a costela cresce a medida que assa. Faça dois ou três furinhos em cima do saco para que saia o excesso de vapor. Ponha numa assadeira ou prato refratário com o osso para baixo. O forno deve ser pré-aquecido a 250 graus.

Deixe por uma hora nessa mesma temperatura. Depois, retire o saco e dê uma tostada por uns 10 a 15 minutos – o forno elétrico com dourador é ideal para isso.O ponto da costela é quando a carne cortada verte sumo, sem estar mal passada (avermelhada por dentro). Seca demais, perde muito do seu sabor. Recomenda-se servir com arroz, salada verde (rúcula, agrião), salada de batatas com maionese e legumes ralados (cenoura e beterraba). Cebola assada inteira junto com a costela também é um bom acompanhamento.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Oração para começar os dias

Esta oração é o início da sessentena que organizamos por aqui, orando para que minha saúde seja restabelecida. Achei bom e divido com os leitores do blog.

Senhor, no silêncio deste dia que amanhece
Venho pedir-te a paz, a sabedoria, a força.
Quero ver hoje o mundo com os olhos cheios
de amor, ser paciente, compreensivo,
manso e prudente.
Ver além das aparências Teus filhos como
Tu mesmo os vê e, assim, não ver senão o bem em cada um.
Cerra meus ouvidos a toda calúnia.
Guarda minha língua de toda maldade.
Que só de benção se encha meu espírito.
Que todos os que a mim se achegarem
Sintam a Tua presença.
Reveste-me de tua beleza, Senhor,
E que no decurso deste dia eu
Te revele a todos.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A geração do meio do caminho


É a minha. Mais precisamente a geração que foi adolescente no final dos 70, quando o movimento hippie já definhava para uma postura mais estética do que política e as drogas acabavam com qualquer possibilidade de ação mais efetiva de contracultura.
Uma geração que viveu no interior do RS, distante 500 km. da capital “longe das capitais”, Porto Alegre. Meninos e meninas que não tiveram grandes projetos para o futuro, mas foram tateando o mundo e a vida na base da experimentação, do erro e do acerto.

Na verdade, não havia tantas alternativas a isso. O mundo se transformou muito nos 70 e nos 80, antes de tomar um novo rumo a partir dos 90. Acabou a Guerra Fria, o muro de Berlim caiu, a tecnologia trouxe novas formas de sociabilidade e de expressão, os indivíduos se viram transformados em sujeitos. Esta última situação pegou aquela geração em cheio; foi a pedra no meio do caminho.

Em torno da surpreendente pedra, aquel@s menin@s praticaram rituais evocando o passado, construindo o presente e negligenciando o futuro.
Hoje, continuamos a caminhar entre inúmeras escolhas, mas, como antes, não acreditamos em promessas ou destino. Carregamos pedaços da pedra como amuletos e temos fé.
Viajamos pela vida com a consciência de que ela é a viagem e não um ponto de chegada.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Literatura e vida

O capítulo encerrado no post anterior saiu de uma vez só, em mais ou menos 30 minutos de escrita. Ficou mais fácil porque é uma mistura de memória e de ficção. Isso é bem típico de escritores inexperientes, acredito, se bem que os romances de formação possam ter muito de biografia do autor. Veja-se, por exemplo, Encontro Marcado, de Fernando Sabino.

Vou continuar a escrever os próximos capítulos, mas não sei como será o rendimento, nem me preocupa isso. Tenho um hábito de escrita: as idéias vêm à cabeça em vários momentos do dia e vão se juntando, se amontoando, se batendo umas nas outras, durante vários dias. Quando sinto que o caldeirão já está transbordando, organizo no papel ou na tela do computador. Isso serve para poesia (quando escrevia), para artigos científicos e, agora, para a ficção.

Agradeço os comparativos dos comentários. Com o Érico Veríssimo tenho a origem gaúcha e as paisagens da campanha em comum. Com o Gabo Marquez, o misticismo, que deve aparecer em várias passagens do livro. Mas como nenhum deles pretendo ter o talento de escritor.
As descrições e os detalhamentos são parte de uma tradição literária. Dêem uma olhada em Em Busca do Tempo Perdido (livro 1 - No caminho de Swan), de Proust, e lá estará uma igreja descrita em detalhes que somam quase uma dezena de páginas.

A linguagem do meu texto ainda não está definida e deve ser diferente em cada fase da vida do menino Guilherme, contribuindo para definir um clima geral do que foi vivido e sentido por ele em momentos específicos.

Por fim, o que escrevi não corresponde necessariamente ao estado de espírito em que me encontro. Um primeiro capítulo tem que ser chamativo e dar vontade de continuar a ler o romance. Essa foi minha intenção com esse rascunho. Se depender somente do meu estado de espírito, já posso adiantar que essa história toda terá um final feliz, ao contrário do seu início.

Por fim, agradeço a todos que têm enviado mensagens e depoimentos de saúde, paz, sabedoria, entusiasmo, amor e felicidade. Todas estão sendo muito bem recebidas e contribuindo imensamente para o meu bem-estar geral. Melhor do que ter leitores é ter amigos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Capítulo 1 - final

Estava no hospital recuperando-se de uma cirurgia. No dia anterior, recebera sangue em vez dos medicamentos para dor e enjôos, porque estava anêmico. No meio da noite, sentiu que seu corpo era jogado com força de algum lugar mais alto para o leito. Guilherme acordou com o choque no colchão e imediatamente começou a sentir as dores do trauma sofrido dois dias antes, aquela cirurgia que modificou-lhe o estômago e o intestino, deixando uma cicatriz de doze centímetros no ventre.
A mãe dele não estava lá e, por isso, não perguntou nada. Se tivesse perguntado o que tinha havido, Guilherme teria apontado o dedo para o céu e respondido a ela.
- Mãe, ele me abandonou.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Capítulo 1 - parte 8

Naquela época Guilherme freqüentava as missas com a avó aos domingos. Mesmo sem uma noção precisa do significado daqueles rituais, estava certamente mais ligado nas coisas de Deus e do espírito do que jamais esteve nas fases posteriores da vida dele. Foi o que percebeu, cinqüenta anos depois, no momento em que soube que estava com uma doença grave. Foi nessa época que teve outra experiência semelhante a da queda do muro. Mas que foi, ao contrário daquela, a consciência de que vivera distante de Deus por muito tempo. Que cometera pecados e até mesmo um crime. Que precisava mudar para continuar a viver em paz.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Capítulo 1 - parte 7

Quando a mãe do menino entrou no pátio, encontrou-o ainda sob o efeito daquele estranho acontecimento. As mães têm essa capacidade de aparecer sempre que os filhos estão em apuros. São quase tão eficientes quanto os anjos da guarda, mas acabam se dispersando dos cuidados com as crianças graças às tarefas outras da vida das mulheres.
- O que houve, meu filho? - perguntou ela.
- Eu caí do muro, mãe, lá no vizinho – respondeu Guilhermei.
- Você se machucou, filho? - perguntou com a voz já alterada pelo medo.
- Não, mãe, ele me segurou – respondeu o menino, apontando o dedo indicador para o céu.
A mãe sorriu, agradecida, sem suspeitar que ele falava a mais pura verdade. Sim, alguém havia segurado Guilherme e evitado uma queda que poderia ter se tornado o segundo acidente mais grave da infância daquela criança.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Capítulo 1 - parte 6

O fato mais marcante da vida do menino, no entanto, é do tempo em que o freqüentava sozinho. Foi numa tarde em que resolveu subir no muro que dividia o pátio com o terreno da casa à direita. Construído com pedras, o muro tinha uns três metros de altura e apresentava defeitos, com algumas pedras soltas e irregulares. O menino arteiro quis andar sobre o muro. Subiu e, ao dar os primeiros passos sobre as pedras, tropeçou, tombando para o pátio vizinho. O pavor inicial do tombo iminente foi substituído pela surpresa, quando percebeu que a queda fora suave e vagarosa, como se alguém o tivesse segurado e o pusesse suavemente no solo. Confuso e alegre, Guilherme subiu rapidamente no muro e voltou para a casa da avó, são e salvo.

domingo, 28 de junho de 2009

Capitulo 1 - parte 5

Mas a principal lembrança dessa casa enorme e misteriosa, como são as coisas para uma criança de quatro anos, é a de um fato ocorrido no outro pátio, o do pomar, que ficava aos fundos. Passando-se por uma estreita porta, que destoava de toda a grandiosidade da casa, chegava-se ao pátio maior. Calçado com pedras na entrada, guardava um galinheiro à esquerda e um pomar cercado de muros por todos os lados. Lá havia figueiras, pessegueiros, limoeiros, laranjeiras, abacateiros e outras árvores frutíferas, que faziam a alegria de qualquer criança. Depois que saiu da casa da avó para morar com seus pais em casa própria, Ghilherme retornava lá, por vezes, para visitar a senhora, agora acompanhado de um irmão. Em algumas dessas visitas, encontrava ainda um casal de primos, para diversões inúmeras no grande pátio do pomar.

sábado, 27 de junho de 2009

Capítulo 1 - parte 4

Nessa varanda também, fazendo arte, Guilherme sofreu seu primeiro acidente mais grave. Chovia e ele brincava de deslizar pelas lajotas lisas quando num impulso mais forte acabou trombando de cabeça nas cadeiras de ferro que cercavam uma mesa. Guardou na lembrança algumas cenas desse acontecimento. O pai esbaforido a buscar chinelos antes de correr com o menino para o carro, a mãe aos prantos, Guilherme com a testa sangrando, a avó querendo saber o que havia acontecido. Disso, ficaram quatro pontos na testa e a lembrança mais forte: a da mãe desmaiando no hospital ao ver Guilherme saindo com a cabeça enfaixada no colo do pai.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Capítulo 1 - parte 3

Passando mais uma porta, a casa se abria novamente. À esquerda o quarto das brincadeiras com Maria da Graça e o banheiro. À direita duas salas que iam até uma espécie de esquina, de onde viriam, a seguir, à esquerda, a copa, a cozinha, despensa e outras peças mais, que eram usadas de depósito ou como quartos para os peões da estância mais chegados quando vinham à cidade. Em frente uma segunda porta levava ao pátio interno. Era uma varanda em L à direita, onde apareciam as inúmeras portas das peças depois da esquina das salas e que cercava parcialmente canteiros recortados por passeios estreitos, uma espécie de trilha que formava um amigável labirinto. Lá no canto esquerdo ficava a garagem, com a caminhonete Chevrolet que não funcionava mais, que era separada dos canteiros por uma fileira de hortênsias até o muro ao fundo que dava para o outro pátio.
Nessa varanda, era comum encontrar tio Ivo, um peão mais chegado da família, moreno, de sorriso maroto sob o bigode fino, que sempre dizia a Guilherme:
- Você anda fazendo arte, menino.
- Eu não, tio Ivo - respondia ligeiro o menino.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Capítulo 1 - parte 2

A mãe não conseguiu leite para amamentar nenhum dos dois filhos. Guilherme foi amamentado por uma ama de leite negra, de quem não guardou a mínima lembrança. Mas nunca esqueceu de Maria da Graça, uma menina negra, de uns dez anos, que foi criada por uns tempos na casa. Levada, brincava com ele de fazer cócegas e guiava suas mãos pelo corpo dela, mostrando onde sentia mais prazer com a brincadeira. Tenho para mim que o menino já formava um instinto sensual nessa tenra idade porque buscava as pernas e o ventre da negrinha para tocar na brincadeira, ao que ela respondia sorridente:
- Aí, não...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Capítulo 1: O anjo da guarda - parte 1

A casa era antiga e enorme. Dessas que parecem guardar mistérios em seus recantos e abrigar fantasmas de um passado longínquo, almas que viveram, sofreram, mataram e morreram e que insistem em trazer essas desventuras para os que hoje vivem no mundo. Vista de frente, era cinza, com uma porta e três janelas de cada lado desta, com pequenas sacadas ao nível da calçada. A porta principal abria-se em duas folhas, dupla, enorme, e dava para um hall. À esquerda e à direita, os quartos da dona da casa, a avó do menino, e o do filho mais moço dela, o pai, João. Foi neste quarto à esquerda que Guilherme passou seus primeiros dias de vida, enrolado com os braços presos ao corpo por uma espécie de atadura, como recomendava o costume de tratar de bebês à época. Deve ter vindo daí a claustrofobia e o medo, que o menino conservou pela vida afora, de acordar dentro do caixão de defunto, sem luz, sem espaço para mexer os braços e sem a possibilidade de ser ouvido ao gritar por socorro.

Se um livro, escrito no inverno

A seguir, partes de um suposto primeiro capítulo de um suposto livro de ficção, supostamente escrito no inverno por um escritor impostor. Tão impostor que, em vez de criar um título original, acabou plagiando parte do título de um livro de Ítalo Calvino, que nem sequer leu: Se eu um cavalheiro, numa noite de inverno...

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Emoções

Do Tiago (Conversos sós...) para mim, poema que me trouxe imensa emoção de alegria.

A Fernando

existem dias em que o dia vira noite
e pára
às claras
o céu enegrece com frieza.

até o pombo
o pombo desdenha a praça
rejeita as migalhas
condena quem reparte o pão
e ataca.

assim
tais dias se passam
idênticos à fugacidade de um cometa
embora uma estrela cadente
se revele tranquilamente segura dentro de ti.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O jornalista, o chef e a modelo

A votação do Supremo Tribunal Federal, favorável ao Recurso Extraordinário 511961, que extinguiu a exigência de diploma de curso superior específico para o exercício da profissão de jornalista deu uma idéia precisa de como a atividade é considerada na mais alta corte do país. No voto do relator, ministro Gilmar Mendes, a profissão foi comparada não à Medicina, à Engenharia ou ao Direito, mas à Culinária. No voto do ministro Cezar Peluso, o jornalismo foi comparado a atividades como a de babá e a de modelo de passarela.

Já o ministro Carlos Ayres Britto afirmou que o jornalismo carece de uma verdade científica e, por isso, não pode ser comparado a profissões que exigem formação em curso superior. Os votos ignoraram 40 anos de existência de legislação (Decreto-lei 972/69) que exigia o diploma de curso superior específico para o exercício da profissão de Jornalista, como lembrou o ministro Marco Aurélio, único dos nove votos favorável ao diploma para jornalistas.

A votação ignorou também todo um esforço trabalhista e acadêmico-científico tão antigo quanto o decreto, perpetrado por jornalistas, cursos superiores, estudantes, professores e pesquisadores brasileiros. Exemplos desses esforços são a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação ((Intercom), o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) e a Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor).

A questão agora é o que fazer com o resultado desses esforços diante da desregulamentação legal da profissão de jornalista. A resposta: aumentar os esforços para garantir a qualidade técnico-cientifica dos jornalistas, estudantes e pesquisadores e manter a luta contra as condições precárias de trabalho. A pesquisa sobre Jornalismo no Brasil vem aumentando gradativamente nos últimos anos, consolidando conceitos e teorias e ajudando a traçar os rumos da atividade. A Fenaj e os sindicatos estaduais, como o de Santa Catarina, têm recebido e encaminhado denúncias de más condições de trabalho.

Mas e os estudantes? Por que freqüentariam quatro anos de curso superior se o diploma não é mais necessário para o exercício do jornalismo? Porque esta foi uma decisão restrita à legislação. E a legislação nem sempre corresponde às práticas sociais. Nenhum tribunal deve decidir de que maneira as pessoas vão se realizar pessoal e profissionalmente. Assim, aqueles que se sentem vocacionados para o jornalismo devem procurar bons cursos superiores para o exercício qualificado da profissão. Assim como aqueles que se sentem vocacionados para a culinária ou seguem o padrão de beleza próprio das passarelas devem procurar o máximo de qualificação em suas atividades.

Há uma diferença, no entanto, entre jornalistas, modelos e chefes de cozinha. Que me perdoem Gisele Bünchen e o chef Alex Atala, mas jornalismo de qualidade é fundamental para o aperfeiçoamento da democracia e a promoção da cidadania. E exercer uma profissão comprometida com esses dois princípios exige mais do que bom gosto ou um corpo adequado ao circuito da moda.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Começar de novo

Um dia antes de entrar em greve, a perita do INSS me concedeu licença até dezembro. Quer dizer, nada de trabalho até lá. Aí então, o negócio é traçar algumas metas pessoais para não ficar ocioso demais. São elas, não necessariamente nessa ordem de prioridade:

- elaborar artigo para intercom nacional
- finalizar artigo do projeto 170 do IBES Sociesc
- participar de algumas bancas de projetos experimentais
- ler alguns livros importantes para a tese de doutorado
- preocupar-se o mínimo possível com horários
- não perder chance de passear e conversar
- dar atenção ao filhote e à esposa

E vamo que vamo, que o dia está lindo lá fora!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

O mundo e as pessoas

Nesses dias, tenho voltado minha atenção mais para as pessoas do que para as coisas. Parece pouco, mas não é. Essa mudança de perspectiva faz com que você dedique mais tempo - e mais memória até - para o que as pessoas fazem e contam, ao invés de ficar pensando nas coisas que tem que fazer ou adquirir.

Antes dos últimos acontecimentos, eu agia diferente. Absorto nos meus compromissos, relegava a preocupação com a maioria das pessoas às ocasiões em que elas estavam participando dos meus projetos de vida – do trabalho ao lazer. Fora disso, esquecia o que haviam dito ou feito.
É como comentou o Nasatto: “Acho que vivemos sempre em um limbo, pois quase nunca nos damos conta do que temos em mãos , seja tempo, amigos, trabalho, sonhos ou saúde.Vivemos em uma rotina que nos consome vagarosamente ao ponto de não nos darmos conta”.

É isso o que geralmente acontece, mas não necessariamente precisa ser assim. O melhor da vida diz respeito à capacidade de nos relacionarmos com outras pessoas e na qualidade desses relaciomentos. O que mais interessa no mundo é a gente que o habita.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

A cabeça no lugar

Como manter a cabeça no lugar em situações radicais como essas? Tendo junto de você pessoas amadas e amigas. Minha mulher é incansável e tem cuidado de mim em tudo o que preciso, da comida aos médicos. Meu filho é uma força para lutar contra as dificuldades. É por ele que vou enfrentar e vencer as dificuldades do tratamento.

Um grupo de vizinhos e amigos se reúne diariamente aqui em casa para rezar pela minha cura e refletir sobre o sentido da vida a partir dos desígnios de Deus. Medicamentos seguram a onda da noite e aliviam dores. O trabalho deve ser mantido como forma de garantir a ligação com o mundo prático.

A espera pelo tratamento

Agora espero pelo tratamento dos nódulos – prefiro chamá-los assim porque parecem menos agressivos. Na semana que vem inicia a quimioterapia, com todas as suas possibilidades de efeitos colaterais. E devem iniciar também as sessões de radioterapia. Mudanças bruscas na vida de um sujeito, podem acreditar.

Uma cirurgia para distrair

As duas semanas seguintes foram vividas nesse limbo. O que distraiu foi a cirurgia para correção das vias biliares para o estômago, o que chamam de Y de Roux. Parte do estômago é retirada, complementado por um atalho do intestino para o novo estômago. Isso gera uma redução da absorção dos alimentos e a necessidade de consumo de complexos vitamínicos para o resto da vida. Também causa a perda de peso. Assim, cheguei a 65,5 kg depois da cirurgia e vou atingir com folga um dos meus objetivos de ano novo – o de pesar 68 kg. a maior parte do ano.

A vida em suspenso

De repente, não mais que de repente, na tela de um aparelho de ultrassom, algo franze o cenho do jovem médico. O paciente percebe a preocupação e escuta o comentário: o seu problema é um nódulo no pâncreas.

É o que basta para deixar a vida de uma pessoa em suspenso. A sensação é de perder o chão e o rumo. Tudo pode mover-se para qualquer lado, sem o mínimo de coerência. Os caminhos percorridos, as estradas planejadas para o futuro, o trabalho, a família, tudo pára e se encontra no mesmo lugar, muito próximo do vazio, do nada.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Vamos dar um tempo...

Este blogueiro se encontra em crise. Não suportou ter que atualizar diariamente o blog e ainda ter que participar do twitter a cada uma hora. É claro que essas foram metas estabelecidas por uma mente perturbada pela hiperatividade que funciona em um cérebro que encolhe - não consigo mais escutar música enquanto leio!

Assim, este blog voltará em maio, com atualização semanal, aos sábados, como uma opção de leitura light para o fim de semana. Até lá continuo no twitter e vou dar uma olhada no tal de Facebook. Quando inaugurar o blog jornalismo blumenau, do 3o período do IBES Sociesc, ponho o link aqui. Também teremos um espaço no ..., naquele site de publicação de fotos on line (é o cérebro encolhendo).

Bem, até maio. Ou a qualquer momento, num espasmo mental extraordinário.

terça-feira, 7 de abril de 2009

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Jornalismo se aprende na escola

No momento em que o Recurso Extraordinário número 511961, que questiona a necessidade de diploma de curso superior específico para o exercício do jornalismo, entra na pauta do Supremo Tribunal Superior, é importante que consideremos uma série de razões que justificam o título deste comentário.

Em primeiro lugar, ao longo de mais de 200 anos de história, o jornalismo deixou de ser uma atividade restrita a grupos com interesses políticos comuns e passou a ser um bem público. As notícias hoje têm um caráter duplo: são mercadorias e informações de interesse público. A primeira característica garante que sejam trocadas por espaços publicitários, que sustentam os veículos de comunicação. A segunda indica que as informações publicadas devem ser úteis para que os consumidores compreendam o mundo em que vivem e sejam capazes de agir em igualdade de condições na consolidação da democracia e na promoção da cidadania.

Em segundo lugar, o compromisso do jornalismo atual com a democracia e a cidadania exige um profissional que incorpore esses princípios na sua atividade diária. O jornalista deve respeitar as fontes, a hierarquia das redações e os princípios éticos da atividade. Mas deve ser comprometido principalmente com a qualidade da informação que recolhe, elabora e divulga. É nisso que consiste basicamente a técnica e a ética jornalísticas. Ouvir os vários envolvidos, presumir a inocência, evitar a invasão da privacidade e vigiar os poderes constituídos são tarefas do bom jornalista.

Finalmente, os obstáculos ao exercício da profissão também mudaram na história do jornalismo. O ritmo do trabalho tem se acelerado consideravelmente, graças principalmente à evolução tecnológica.. A pressão política e econômica se sofisticou com a incorporação de assessorias de imprensa que contribuem para transformar comunicados interessados em notícias.

Não há mais o jornalismo romântico, aquele que era aprendido na prática graças ao talento e à dedicação quase sacerdotal de boêmios escritores, do qual nos fala Gabriel Garcia Marquez. O jornalismo virou profissão, regulamentada no Brasil desde 1969. Como profissão, tem seu corpo teórico, sua ética, suas técnicas e seus princípios sociais. Tudo isso é aprendido e discutido nas escolas de Comunicação Social. Nelas, busca-se a formação de um jornalista capaz de entender a sociedade em que atua e evitar as pressões diversas que ameaçam a atividade. Um jornalista engajado na promoção do bem-comum e não nos benefícios de uns poucos.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Jornalismo: engajamento

Algumas horas depois de ter vestido blazer e gravata para a entrega dos prêmios de imprensa, vesti bermuda e camisa e fui para o sol, de banner em punho, panfletear a favor do diploma para jornalista. Contei com a presença do colega Formiga e de um aluno. Entregamos uns 200 e poucos panfletos para os transeuntes, a maioria deles sem a mínima noção do que a gente estava falando: "Jornalista por formação", "Bom dia; a favor do diploma para jornalista". Mas fizemos a nossa parte daquele trabalho de formiguinha.

Acompanhei a sessão do STF. Começou com meia hora de atraso. Houve uma hora de trabalhos, com exposições de representantes do PDT, da ONG Artigo 19 e da ABI, que pediram a extinção da Lei de Imprensa na íntegra. Depois de mais uma hora de ointervalo, a sessão recomeçou. O relator do processo sobre a Lei de Imprensa, Ayres Britto, levou uma hora e meia para ler o voto dele, pedindo a revogação da lei. Mais um ministro votou no mesmo sentido e a votação foi interrompida – aí eu já não estava assistindo mais, estava em aula.

A questão do diploma para jornalista foi adiada para o dia 15 de abril.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Jornalismo: glamour e engajamento

Esta semana tem sido especialmente dedicada à discussão sobre o Jornalismo. É que hoje o STF julga a necessidade ou não do diploma de curso superior específico para o exercício da profissão no Brasil. Não é pouca coisa para quem é jornalista, professor de jornalismo, coordenador de curso de jornalismo e diretor do sindicato dos jornalistas de SC.

Na segunda-feira, promovemos um debate com um representante do sindicato e da associação de imprensa (era a mesma pessoa, já que o presidente da associação estava trabalhando em Florianópolis), ex-alunos do curso (um apareceu) e estudantes de três turmas. Foi melhor do que eu esperava. Os alunos se interessaram e fizeram perguntas pertinentes. No final, falei que nenhum juiz ou tribunal pode decretar o fim do sonho de quem escolheu o jornalismo como forma de realização profissional e pessoal. Sim, eu acredito nisso!

Na terça, participei como convidado da entrega do troféu Rodolfo Sestrem (o falecido Galo, grande figura do radialismo esportivo e popular de Blumenau), promovido pelo jornal Voz da Razão (que competou 21 anos de circulação!). O troféu engloba categorias ligadas ao rádio e à tv, como apresentadores, repórteres e comentaristas. Vários alunos do IBES Sociesc concorriam aos troféus. Foi bom reencontrar colegas e conhecer outras pessoas ligadas à área. Há uma renovação de profissionais no rádio e na tv, com muitos jovens promissores egressos das escolas de jornalismo atuando na cidade que foi pioneira na comunicação no estado. Entre as falas, apareceu muito a de que a categoria deveria se encontrar mais vezes para reforçar sua união. Concordo plenamente.

Hoje participo de uma panfletagem no centro da cidade. Convidei os alunos. Espero que apareçam alguns. Enviei um artigo para um jornal da cidade sobre o assunto, com o título de Jornalismo se aprende na escola, mas não foi publicado. É assim mesmo. O trabalho de consolidação da atividade jornalística é daqueles de formiguinha (Formiga, aliás, é o sobrenome do meu colega de profissão e de sindicato em Blumenau). São muitas as pressões pela desregulamentação. Mas não podemos nos omitir. Se não formos nós jornalistas, professores e estudantes a defender a categoria e a profissão, quem irá fazê-lo?

Vamos à luta. O sonho de um jornalismo de qualidade não pode acabar.

terça-feira, 31 de março de 2009

Bukowski, então...


A pedidos do Tiago/Conversos, segue um trecho de um livro do Bukowski, que li muito na parte da minha juventude mais voltada a uma atitude punk com a vida. Tenho ainda três deles: Fabulário geral do delírio cotidiano, Notas de um velho safado e Crônica de um amor louco. Para quem não sabe, Charles Bukowski é um poeta e escritor desses outsiders, marginais. Seus contos se referem ao submundo norte-americano, sempre regados a muito álcool, palavrões, sexo e um certo desespero com a falência do sonho americano.
O trecho que copio abaixo é do primeiro conto do Crônica e se chama "A mais linda mulher da cidade".

"Bebi até a hora de fechar. Cass, a mais bela das 5 irmãs, a mais linda mulher da cidade. Consegui ir dirigindo até onde morava. Não parava de pensar. Deveria ter insistido para que ficasse comigo em vez de aceitar aquele não. Todo o seu jeito era de quem gostava de mim. Eu é que simplesmente tinha bancado o durão, decerto por preguiça, por ser desligado demais. Merecia a minha morte e a dela. Era um cão. Não, para que pôr a culpa nos cães? Levantei, encontrei uma garrafa de vinho e bebi quase inteira. Cass, a garora mais linda da cidade, morta aos vinte anos.
Lá fora, na rua, alguém buzinou dentro de um carro. Uma buzina fortíssima, insistente. Bati a garrafa com força e gritei:
- Merda~Pára com isso, seu filho da puta!
A noite foi ficando cada vez mais escura e eu não podia fazer mais nada."

Um conselho para eventuais novos leitores do velho Buk. Não tente fazer as coisas que ele fez em vida, a não ser escrever de forma lírica e poética. Este conselho está escrito no túmulo dele, que morreu em 94, de leucemia, com 73 anos: Don't try.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Existir na internet

Trecho do texto Jornalismo e mídia: o fim do real e a consagração do universo midiático, de Malena Contrera. Para pensar.

"O novo ser comunicante quer estar no meio: quer se sentir fazendo parte, quer ser visto (todo mundo quer ser visto e ninguém mais consegue ver), quer reconhecer o outro apenas na medida em que o outro lhe confirma a própria inclusão na rede, a pertencência ao grupo dos conectados. Confirma-se a máxima: acesso e sou acessável, logo existo".

quinta-feira, 26 de março de 2009

Drummond

De repente me veio a idéia de divulgar aqui alguns poemas dos meus preferidos. Afinal, coisas boas devem ser espalhadas por aí. E um poema, mesmo daqueles terríveis como Versos íntimos (...Acostuma-te à lama que te espera!...) é sempre uma coisa boa.


Então resgatei Drummond, que estava lá atrás, na estante, junto com a Divina Comédia e alguns livros do Bukowski. Quando mais jovem, lia os poemas e marcava os que mais me impressionavam. No volume 1 da Nova reunião, com 19 livros do Drummond, logo o primeiro está marcado. Chama-se Poema das sete faces, do qual seguem dois trechos:


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
(...)
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Chuva

A chuva cai em Blumenau
Cai a chuva
Em Blumenau
Cai
A chuva
Em Blumenau
A chuva
Cai

Mais uma do tipo "nada a declarar"

Tem uma letra do Lulu Santos que não diz absolutamente nada. A música se chama Mais uma de amor e é até bonitinha. Mas a letra simplesmente não existe. Veja só:

Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido
Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer

Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer

Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber

Ora, ora, se é para ninguém saber poupe meus ouvidos desse nada, Lulu!

terça-feira, 24 de março de 2009

"Enquanto os cães ladram...

... a caravana passa". A frase era uma das preferidas do colunista social Ibrahim Sued, o turco, famoso na década de 70. Como tantas outras por aí, é uma frase que não diz absolutamente nada.

Lembro de um primo meu rindo muito de uma menina que ficou pensando no significado da frase quando foi citada por um colega folgazão. Lembrei também de certas palestras que mostram vídeos de dança e depois pedem para os ouvintes relacionarem o que viram com o que vivem nas empresas. E não é que eles descobrem relações?

Só rindo mesmo!

Aranhas desajeitadas


Nada de novo no passeio com a cadela pela manhã. Soltei o bicho da coleira em um terreno que cercaram na esquina do prédio em que moro. Ela não foi muito longe e veio logo que assoviei para ser acorrentada de novo.

No UOL vejo uma notícia de um bombeiro que se fantasiou de homem-aranha para salvar uma criança autista que saíra pela janela da escola em que estuda, na Tailândia (http://noticias.uol.com.br/album/090324_album.jhtm?abrefoto=1). O menino não atendia o chamado de ninguém, mas caiu nos braços do super-herói assim que o viu.

Vivemos hoje como aranhas desajeitadas. Criamos heróis que acabam por salvar as vidas de nossos filhos. Acostumamos animais a viverem acorrentados perto de nós. Ficamos dependentes do que criamos. Cada um se enreda nas teias que tece é o que diz no meu Orkut. Só que, ao contrário das aranhas, acabamos literalmente enredados em nossas crenças e construções da realidade.

A alternativa a isso é viver acreditando em destino escrito nas estrelas. Mas como saber se esse destino não é mais uma teia construída por nós a nos enredar na vida? Não há alternativa, na verdade. Vivamos como aranhas desajeitadas e tentemos chegar ao fim da vida ao menos com um olho descoberto para ver o que está acontecendo ao redor do nosso embrulho.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Rotina (tarde)

Acabei lendo mais um pouco do Chesnais, mesmo, a parte sobre a auto-violência, o suicídio. Para não perder o embalo da leitura em francês. Na musculação, chegaram máquinas novas. Decidi correr só dez minutos hoje e mais 50 amanhã, para variar um pouco.

Duas da tarde: hora do futsal do filhote. Tivemos sorte de sair bem na hora que o vermelhinho passou. Voltei a pé debaixo do sol forte, vestindo preto. (Roupa preta atrai o calor: mito ou verdade? Verdade, e como atrai...). Aproveitei o tempinho que sobrou para escrever dois diálogos para um programa de televisão do curso. Sem carro, busquei o guri de bicicleta, para variar.

Preparação de aula. Hoje darei tempo para a turma de redação preparar o seminário sobre manuais de redação. Na quinta, iniciamos as editorias. O blog da gurizada já está pronto e se chama Jornalismo Blumenau. Amanhã tem seminário sobre o código de ética dos jornalistas brasileiros na aula de Ética. Época de avaliações.

Tomo mais um chimarrão antes de partir para o trabalho. Ainda terei que resolver algumas questões relativas à coordenação do curso depois da aula.

Rotina (manhã)

Segunda-feira é sempre mais difícil sair da cama. Atraso alguns minutos minha manhã e só começo a tomar chimarrão lá pelas 7h15min. Assisto ao telejornal e fico sabendo de um avião de carga que caiu no Japão e explodiu na pista, tudo devidamente registrado com imagens. Taí um assunto para começar a semana. No mais, tudo meio normal. O Inter ganhou mais uma de goleada no gauchão.

Saio a passear com a cadela. Na casa pendurada no morro, homens trocam o telhado. O morador vai permanecer lá. É o ateliê de um(a) artista.

Na votal do passeio, decido estudar a metodologia da minha tese. Vou reler A construção social da realidade (Berger e Luckmann). Preciso tirar a limpo a diferença entre essa maneira de conhecer o mundo e a das representações sociais. Depois retomo o Histoire de la violence (Chesnais). Aliás, tenho que terminar um artigo também sobre representações sociais. Mas isso fica para mais tarde, depois do almoço, depois de preparar as aulas da semana, que nada tem a ver com representações ou com contruções sociais.

O almoço já está definido: lasanha semi-pronta. É ideal para a segunda-feira, nada de muito trabalho ou de muito esforço. Esforço, só na academia, lá pelas dez da manhã.

sexta-feira, 20 de março de 2009

O suspiro da terra

Entardecer, intervalo sutil e impreciso entre a tarde e a noite. No campo, o sol já se põe, mas persiste um rastro de luz que deixa ver na paisagem sinais do dia que se acaba. O peão soltou o último cavalo, que se afasta pelo pasto. Os cães se acomodam nos cantos com as línguas de fora. O pássaro diurno se recolhe ao ninho e o primeiro tatu ainda não saiu da toca.

É quando, por segundos, tudo pára e a terra suspira. Não se ouve nada nem nada se mexe. A paisagem toda inspira o que o dia trouxe de novidade, segura um pouco a respiração e, então, expira, oxigenando-se para a noite. O campo, a mata, o riacho, os animais ficam sustados.

Esta é mais ou menos a sensação que tinha quando estava em campanha, sentado em frente à casa centenária, depois de um dia de diversões que incluía passeios a cavalo, pescaria e banhos de riacho. Sensação que reencontrei nos versos de Cobra Norato, de Raul Bopp:

Dissolvem-se rumores distantes
num fundo de floresta anônima

Sinto bater em cadência
a pulsação da terra

Silêncios imensos se respondem...

quinta-feira, 19 de março de 2009

P'ra não dizer que não falei das frutas

Como durante a quaresma não como carnes vermelhas e evito ao máximo as bebidas alcoólicas, como mais frutas. ............................................................
Aí, caiu a internet, perdi muito texto que já estava escrito e eu não tive paciência para completar esse post.
Mas, enfim, fruta é bom. Coma frutas!

terça-feira, 17 de março de 2009

Superpoderes

- Pai, você me ensina a ter superpoderes?

Pego de surpresa, respondi que sim. Mas que precisava de um tempo para me concentrar e ficar mais calmo para esse tipo de aula.
- Sabe como é, meu filho, estou cheio de coisas para fazer agora.

E aí fui pensar nos tais superpoderes que devemos ter para enfrentar o tipo de vida que se leva hoje. Acho que a grande tarefa que temos é justamente dar conta da vida com um certo controle sobre o que queremos, sentimos e fazemos. Não do tipo agir objetivamente o tempo inteiro, mas ter parâmetros que permitam uma navegação na vida com o mínimo de rumo. Um mínimo de autoconhecimento para que possamos fugir às armadilhas das drogas, do desespero, da solidão e do vazio existencial.
Agora, como traduzir isso para uma criança de oito anos? Cuidando dela e orientando-a como um pai deve fazer. Acompanhando-a em suas tarefas da escola e atividades de lazer. Inventando aulas de superpoderes, a começar pela yoga, que é um ótimo exercício físico e mental para a promoção do autoconhecimento.

quinta-feira, 12 de março de 2009

quarta-feira, 4 de março de 2009

O mundo é das mulheres

Não, não é puxasaquismo devido à proximidade do dia oito de março, Dia Internacional da Mulher. São constatações empíricas, mesmo.

- Terminei um trabalho sobre idos@s na internet e na comunidade que pesquisei as mulheres são maioria e estão se sobressaindo na definição dos temas discutidos entre os integrantes, ao contrário do que acontecia há dois anos;

- Terminei o trabalho com o computador na cozinha, enquanto preparava o almoço para a minha mulher que estava trabalhando e iria buscar meu filho na escola;

- No BBB 9 restaram apenas dois homens depois da saída do Ralf ontem;

- "É a consciência da dominação sofrida e a de uma existência particular, e portanto de direitos particulares, que fazem da mulher um sujeito, que dirige sua ação principal para si mesma, para a afirmação de sua especificidade e ao mesmo tempo de sua humanidade" (Alain Touraine, sociólogo).

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Ressonância imagética

Depois de dizer que a minha coluna vertebral estava " judiada", o médico me fez enfrentar outra contrariedade: fazer uma ressonância magnética. Na entrevista antes de entrar pelo tubo confessei que não me sentia bem em locais apertados. Na verdade, não suporto a idéia de ter os movimentos limitados. Enquanto aguardava com aquela roupa branca de médium pensava como enfrentaria a sensação de estar preso num caixão; iluminado, mas caixão.

Pensei em meus tempos de iogue. Bastaria fechar os olhos e me concentrar em algo bom, que envolvesse sensações diversas capazes de distrair a maioria dos sentidos. "O exame dura 20 minutos", avisou a moça. "O aparelho vai fazer ruídos fortes. Aqui na sua mão há uma campainha para o caso de você precisar sair".

Fechei os olhos assim que comecei a entrar no tubo. Quando a maca parou, abri e me senti mal. A parede do tubo estava muito perto do meu rosto. Olhei para baixo e para cima até onde a vista alcançava e fiquei imaginando se daria para espichar os braços para o alto da cabeça, agarrar a borda do tubo e puxar, tirando a cabeça para fora. Fechei os olhos e o ruído me distraiu um pouco. Tentei compor uma música eletrônica com aqueles zumbidos sequenciados (adeus trema).
O que me salvou foi o passeio de barco que tinha feito no domingo de carnaval, até a ilha de Anhatomirim. Teve um momento nele em que fechei os olhos (acho que devo consultar um oculista) e fiquei sentindo o vento, o sol, o ruído da água e do motor no balanço do barco. Busquei essas sensações e as trouxe para dentro do tubo, para a pele, p'ra dentro da cabeça (reagge, u-hu).
Fiquei nessa não sei quanto tempo. De vez em quando olhava para ver se a parede estava na mesma distância do meu nariz. Apenas em um momento meu pensamento viajou para aquele pesadelo de ser enterrado vivo... Mas cpnsegui voltar para a viagem de barco, sem usar a campainha.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ainda os blogs

De um artigo que estou escrevendo sobre idosos e internet: "a escrita de si foi mobilizada pelos indivíduos modernos com múltiplas intenções, entre as quais a de permitir o autoconhecimento, o prazer, a catarse, a comunicação consigo mesmo e com os outros" (Gomes, 2004).

Pois é, todo o post vale a pena, mesmo quando se fica falando sozinho.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Blog e o sentido da vida

Relutei muito antes de ceder à tentação de ter um blog, mesmo desse tipo diário-a-toa. Pensava que iria arranjar mais uma daquelas encrencas que são boas no início e se transformam em fardo depois. Nesse caso, há mais um complicador: ficar procurando coisas significativas na rotina ou significações para atividades rotineiras. É mais ou menos como ficar questionando o tempo inteiro qual o sentido da vida.

Bota encrenca nisso!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Uísque - post requentado


Vinte para o meio-dia de sábado. As crianças brincam no playground no dia morno de outono. A água do macarrão está quase no ponto. No cd, Ira, eu quero sempre mais. A mulher na pós-graduação. Na janela, um movimento intenso de carros. Onde serão as churrascadas?

Penso nessas coisas enquanto me recupero de uma lesão muscular no pescoço, causada pela falta de tempo de pensar nessas coisas: em mim, no meu filho, na minha mulher, nos outros. Não, não somos coisas. Pensamos.
Dimple, 15 anos, segunda dose. Saúde a todos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Conclusões dos últimos dias

- Já não dispomos de tempo para nada que não seja trabalhar para sobreviver;

- Uma das coisas mais irritantes da vida é depender dos outros;

- Tome decisões baseadas em você, de preferência depois de uma boa noite de sono;

- "Everybody's got a hold on hope. It's the last thing that's holding me" (Guided by voices).

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Jejum 1 x 0 Balança

Depois de várias tentativas, consegui ficar 22 horas sem comer. O resultado foi que cheguei com 70,8 quilos na academia e saí de lá com 70 quilos cravados. Há muito tempo não atingia essa marca. Tudo graças ao jejum que fiz na segunda e ao domingo em família com direito a pedalada até o Recanto Silvestre, banho de rio e tranquilidade.

"P'ra que isso?", perguntou minha mulher preocupada enquanto tentávamos atravessar o ribeirão Garcia (é o Garcia já ali na foto?) com as bicicletas e nosso filho, no lugar em que a enchente de novembro levou uma das pontes. Tivemos que enfrentar essa travessia na corrente forte para chegar na Nova Rússia porque os bombeiros estavam provocando o deslizamento de um morro na rua Progresso. No final, rimos disso tudo e meu filho adorou a aventura. Foram quase 30 quilômetros de pedalada.

O programa de domingo me deixou tranquilo o suficiente para encarar um jejum na segunda. Ao contrário dos que fazia em Porto Alegre, que duravam 48 horas, este durou apenas 22. Mas trouxe seus benefícios: disposição, sensação de limpeza orgânica e uma tendência às atividades espirituais. Sim, Roncinante estava certo ao dizer que a pessoa com fome fica metafísica, no Dom Quixote.

Mas a sensação de fome não chega a incomodar. E olha que preparei uma feijoada para o almoço! Só comi à noite porque fiquei com receio de acordar de madrugada com fome. De qualquer forma foi bom. Retomei o controle sobre alguns de meus apetites e ganhei um round na luta contra a balança.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Bife peixe

Escolha uma carne adequada para preparar bifes. Filé mignon não, porque esta é mais aindicada para pratos com molhos. Pode ser coxão mole ou alcatra. Se o orçamento estiver apertado, coxão duro mesmo. Corte bifes finos para que não fiquem muito mal passados por dentro.

Uma das minhas tarefas atuais é preparar o almoço, já que minha mulher está trabalhando mais do que eu e ainda assumiu como síndica do prédio. E aí tenho que "determinar o almoço", como dizia minha mãe, em tom de reclamação. Era mais uma tarefa doméstica essa de pensar no cardápio diário que seria preparado pela empregada. Como não tenho empregada, além de determinar, tenho que preparar a comida.

Tempere a carne com sal. Se quiser, polvilhe alguma erva para dar gosto. Pode ser orégano, ervas finas ou manjericão. Mas não exagere. As ervas servem mesmo para dar um aroma especial para o prato e não tanto para dar gosto. Em excesso, podem tomar conta do prato.

Ainda bem que aprendi a me virar na cozinha quando morei sozinho em Porto Alegre. Outro dia determinei que o prato principal seria bife à milanesa. Na hora de preparar, percebi que não tinha ovos. Aí lembrei de uma receita dos tempos que minha mãe determinava o que iríamos comer: bife peixe. É a mesma coisa que bife à milanesa, só que sem ovo. O nome acho que vem da forma de preparar (empanado na farinha), mais comum ao peixe do que à carne bovina.

Aqueça em uma panela uma quantidade de azeite capaz de cobrir metade dos bifes. Use de preferência óleo de milho ou de girassol. Se o orçamento estiver apertado, use de soja mesmo. Antes de fritar, passe os bifes na farinha de mandioca (pelo menos foi a que eu encontrei para usar), deixando-os totalmente encobertos.

Naquela época, o ritual de almoço consistia em sentarmos todos juntos à mesa, comer, comentando alguma coisa da manhã, sem televisão, e esperar até que meu pai terminasse para sair da mesa, mesmo que já tivéssemos terminado de comer. Essa era a parte mais chata.

O ponto do bife é quando a farinha fica dourada. O melhor é que a carne fique no ponto e não mal passada. Sirva com uma salada verde (alface, agrião, rúcula), cenoura ralada e arroz integral. Se o orçamento estiver apertado... já sabe, né?... arroz branco. Para beber, água ou suco.

Receita simples, mas boa. Como um almoço em família dos tempos em que éramos crianças.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A fila

Foi a mais longa que já enfrentei. Durou seis horas. A fila foi para retirar o dinheiro do FGTS, liberado para os moradores de Blumenau depois das enchentes/desabamentos de novembro passado.

A primeira hora de fila até que é divertida. As pessoas estão ainda dispostas, conversam e riem de seus reveses particulares. Até eu conversei, apesar de ter levado um livro. Expliquei para o sujeito da frente que estava viajando e não pude vir para a fila no dia em que atenderam os nomes com inicial F.
- Você viaja de caminhão?, perguntou ele.
- Não, eu sou professor, respondi. Estava viajando de carro, em férias, completei.
Aí o papo acabou. Fiquei pensando se, à primeira vista, professores e caminhoneiros se parecem ou se eu estou ficando mais parecido com um caminhoneiro do que com um professor. Por via das dúvidas, abri o livro.

Os ambulantes davam dicas de alimentação, na tentativa de vender seus produtos nada saudáveis.
- O certo é comer um pouquinho várias vezes por dia. Aí não engorda. Coma um pastel agora, ganhe um café de graça e, mais tarde, coma um pão de queijo, disse um.

Mais a frente, uma menina com roupa de ginástica distraia o olhar. E uma senhora sempre ficava para trás quando a fila andava por causa da conversa. E eu comecei a ficar com vontade de dizer “ô minha senhora, presta atenção na fila!”

Na segunda hora da fila, comecei a sentir mais intensamente o cheiro de cachaça do sujeito atrás de mim. Pior ainda quando ele acendia um cigarro. O cara estava exalando álcool as dez da manhã! Podia ter vindo mais tarde, pelo menos não ficaria castigando meu nariz e meus pulmões.














Demorei quatro horas para entrar no ginásio onde estava sendo feito o atendimento. Nessa altura do campeonato já tinha enjoado até de olhar a roupa de ginástica da menina da frente. No livro, Bauman falava sobre a individuação própria da modernidade líquida. E a gente ali, tudo junto, na mesma fila, na mesma situação, e sem se falar durante horas. Bem, pelo menos eu. As mulheres à minha frente conversaram o tempo todo. Haja assunto!

No ginásio, tudo foi mais rápido. A vantagem foi ficar sentado nas cadeiras individuais. As pessoas já não conversavam tanto. Haviam sido separados os grupos que se formaram na imensa fila. A atenção era para a seqüência dos números das senhas que iam sendo chamados de dez em dez.

O atendimento nos caixas não durou mais do que cinco minutos. E tudo foi resolvido a contento. As quatro da tarde fiz um lanche e fui para casa, antes de ir para o trabalho. Fiquei impregnado de gente, impregnado de sociedade, de situações em que somos colocados sem escolha, sem diferenças de classe ou de gênero. Tudo a mesma coisa, professores, caminhoneiros e moças de roupa de ginástica.

Espero não ter que enfrentar de novo uma experiência como essa.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

BBB 9 ...

Eu não resisto à possibilidade de fazer sociologia de botequim com esse programa...

A miss Pernambuco Michelle, primeira eliminada do BBB 9, disse que o pessoal que era do grupo B (a ralé) está mais unido do que o que era do grupo A (a elite). Será, então, verdade que a força das comunidades está nas dificuldades enfrentadas em comum?

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Luta contra a balança

Esse negócio de perder peso fica cada vez mais difícil quanto mais velha fica a pessoa. Vi em alguma publicação que o nosso corpo necessita cada vez menos de alimento justamente na fase em que começamos a ficar mais ociosos e incapazes para exercícios físicos. Aí, o negócio é fechar a boca. Mas não é nada fácil.

Para atingir um dos meus objetivos de 2009, por exemplo, pesar 70 quilos na maior parte do tempo, vou precisar mudar de hábitos. Do jeito que está, recupero os dois quilos que perco em cinco dias de academia em dois dias no fim de semana. Os vilões dessa rotina são pão, arroz branco, cerveja e carne, além da falta de exercício no sábado e no domingo. Assim não dá!

Escrevo isso aqui para assumir minha luta contra a balança e, se Deus quiser, compartilhar sucessos nessa batalha com os leitores. Aliás, se tiverem dicas para ajudar, serão bem recebidas.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Big Brother Brasil 9

Ah, sim. Não dá para não comentar. Afinal já é a nona edição desse reality show que todo início de ano fabrica meia dúzia de personalidades que não duram até dezembro.

Como todo o programa que se preze deve apresentar algumas "novidades" a cada edição, o BBB 9 trouxe logo três. Há um muro separando um grupo A, privilegiado em suas acomodaçòes e tratamentos, e um B, que precisa se virar com uma estrutura de segunda classe. Quatro pessoas disputam uma vaga vivendo em uma "casa de vidro"num shopping, onde serão visitados e escolhidos pelo público. E há dois representantes da terceira idade no jogo deste ano. Por respeito dos jovens e sarados concorrentes, os velhinhos foram escolhidos para disputar a primeira liderança do jogo. Vamos ver até quando o "respeito" dura.

Fosse há alguns anos, eu diria que a separação dos concorrentes em um grupo de privilegiados e outro de pobres coitados refletia a condição de desigualdade social do país, blá, blá, blá... Mas sabemos que o jogo não tem nada a ver com política e sim com dinheiro e sexo (veja a foto da Priscilla ao lado).

Agora, que o tal muro vai deixar um mal estar entre os concorrentes, isso vai. Afinal, ninguém gosta de ser considerado "classe C".

E o Bial saiu da cobertura da queda do Muro de Berlim para a apresentação da queda do muro do desgosto do BBB 9. Pois é, política cansa e não dá tanto Ibope...

Imagens para o mundo

Minha primeira incursão com vídeo no youtube pode render a inclusão de imagens num documentário produzido pela Pilgrim Films & television, da Califórnia. De volta das férias, recebi um e-mail de um produtor solicitando imagens complementares e prometendo alguns dólares. O vídeo de 21segundos teve pouco mais de 300 exibições em um mês, mas o título em inglês ajudou na divulgação dele além das fronteiras do Brasil.

Um vizinho também recebeu proposta parecida do Discovery.

As imagens interessantes agora são para o mundo todo ver. Isso também vale para reportagens profissionais, que ganham circuitos alternativos às grandes redes brasileiras de televisão. O negócio é se conectar na internet e no inglês.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Educação sentimental pelos animais

Fiquei impressionado de constatar o quanto as conversas sobre animais, principalmente cães, ocuparam o tempo de papos enquanto estive em Livramento. As atitudes, manias e trabalhos que os cães têm e dão a seus donos foram assuntos recorrentes em ambientes tão diversos quanto a casa dos meus pais e a visita a um primo que não via há anos. E olha que havia o que falar: meu pai tem câncer e meu primo se aproxima dos 50 anos.

Estamos sendo colonizados sentimentalmente pelos nossos bichos de estimação. Além de ocuparem um espaço e um tempo cada vez maiores na vida das pessoas, os animaizinhos estão tomando conta do nosso universo sentimental. Parece que os assuntos que envolvem as pessoas já ficaram chatos e repetitivos. O negócio agora é proteger, amar e comentar com os outros nossas aventuras com os animais. Como os ambientes estão cada vez menores e os espaços públicos para os bichos ainda apresentam uma série de restrições, essas aventuras se dão mais na esfera afetiva do que na física - passeios, correrias e outras coisas que eram comuns de se fazer com animais quando eu era criança e as casas tinham pátios.

A adoção de uma cadela para o meu filho foi motivada em parte por causa dessa educação sentimental pelos animais. Como não pretendemos ter outro filho, adotamos uma cadela para que o menino se exercitasse afetivamente. E deu certo. Ele adora a cadela, que ainda veio com seis filhotinhos de brinde. Ele os viu nascerem, crescerem um pouco e serem dados a outras pessoas. Sofreu particularmente quando o mais escurinho, seu preferido, foi adotado por uma pessoa desconhecida. Outro dia, disse que ficava triste ao pensar como teria sido a vida da cadela na rua antes de ser adotada por nós.

Nossa cadela é vira-lata, mas desperta sentimentos nobres no meu filho, como a compaixão e a solidariedade. Ele gosta dela incondicionalmente. Penso que temos muito o que aprender sobre nós mesmos com o convívio com os animais, desde que estejamos dispostos a isso.

Mas não devemos esquecer as pessoas...

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Promessas para 2009

Intercalar musculação e yoga durante a semana

Qualificar a tese até julho

Pesar 70 quilos na maior parte do ano